Essa ideia não é original, surgiu a partir de um post do Geoffrey Fuller. Nós gostamos bastante de vinhos, mas nunca tinha passado pela minha cabeça guardar desde cedo algumas garrafas pros meus meninos. Quando a Bruna me mostrou esse post, há uns 2 anos atrás, achamos uma ideia muito legal e decidimos: vamos montar uma adega para nossos filhos.
Nesse post, vamos falar sobre por que tomamos essa decisão e trazer dicas super úteis e práticas pra você. Quem sabe, não gosta da ideia e começa uma também?
Martin na loja de vinhos segurando seu primeiro vinho, uma homenagem à bisavó.
Por que decidimos guardar vinhos e montar a adega para nossos filhos?
Para nós, o vinho não é apenas uma bebida, mas um ótimo acompanhamento para celebrações, rodas de conversa e momentos marcantes. Sempre que temos algo para comemorar, seja um aniversário, uma conquista ou mesmo uma tarde gostosa com amigos, invariavelmente vem a pergunta: “que vinho a gente abre”?
Nada mais natural, portanto, do que querer criar uma adega para que eles tenham essa oportunidade também no futuro. E nós sempre queremos o melhor para os nossos filhos, não é? Eu não tenho condição ou coragem de comprar um vinho de 20 anos para mim porque os preços são impraticáveis (estou falando de alguns milhares de reais). Por outro lado, se eu começo a comprar aos poucos (um por ano, por exemplo), conseguirei proporcionar exatamente essa experiência para os meninos: terão a oportunidade de experimentar vinhos de guarda espetaculares sem ter que quebrar o cofrinho por isso.
Da ideia para a ação
Legal, a ideia era ótima e tinha tudo a ver com a gente. E agora, como fazer? Pelo (pouco) que eu conheço de vinhos, sabia que não adiantava simplesmente começar a comprá-los e encostar em algum lugar da casa. Precisa haver um método para que isso dê certo. Que tipo de vinho? Quais comprar primeiro e quais comprar depois? Guardar como? Calma, calma… temos as respostas!
O desafio de escolher e preservar o vinho
A primeira coisa que você tem que considerar é quanto tempo vai precisar guardar o vinho. Isso depende, claro, da idade dos seus filhos e de quando você entregará os vinhos. Se sua filha tem 2 anos e você quer guardar até ela fazer 18, serão 16 anos; se você vai começar essa ideia e seu menino já tem 15 anos, precisará guardar por apenas mais 3.
Isso tudo faz diferença.
No nosso caso, comprei o primeiro quando o Martin tinha 1 ano. Minha intenção é dar os vinhos em etapas: alguns quando fizer 18 anos, alguns quando se formar na universidade, quando casar, tiver filhos… enfim, isso tudo pra falar que os vinhos que eu comprar agora terão que durar muito tempo.
E como guardar os vinhos por tanto tempo?
Nem pense em colocar no fundo do armário, ou numa gaveta que você não mexe! Para durar tanto tempo, o vinho precisa de estabilidade, baixa temperatura, um ambiente escuro e com umidade controlada. Ou seja: precisa de uma adega.
E geladeira, serve? Para o dia a dia, ok. Para guardas longas, nem pensar. Não adianta querer criar atalhos: para implantar essa ideia, você vai precisar de uma adega.
De que tamanho? Boa pergunta, mas vamos fazer uns cálculos rápidos: se você quiser guardar vinhos por 15 anos, e comprar 1 por ano, serão obviamente 15 vinhos. Aqui, estou só falando dos vinhos que vão ficar guardados, fora os que você pode querer beber no dia a dia. Por baixo, eu consideraria uma adega de pelo menos 25 a 30 vinhos nesses casos. Se tiver mais de um filho, ou quiser guardar por mais tempo, a conta muda. É o meu caso e vou explicar mais pra frente como faremos. Mas antes…
E daí? Vinho é vinho… não é?
A resposta curta é: não. Muita gente ainda acha que aquele ditado que fala que vinho só melhora com o tempo é verdadeiro, mas não é bem assim. Você sabia que a maioria dos vinhos é produzido para consumo imediato? Especialmente esses que a gente toma no dia a dia. Não são vinhos de guarda.
E como você sabe qual é o vinho de guarda, afinal de contas? A resposta não é tão simples assim, mas tenho algumas boas dicas pra você.
A primeira dica é que a região, bem como a forma de produção e amadurecimento do vinho, influenciam. Vinhos chilenos e argentinos são melhores se consumidos em poucos anos após a colheita. Por outro lado, vinhos franceses e italianos são famosos por seus longos tempos de guarda até chegar ao pico de maturidade.
Outro fator muito importante é a qualidade da safra. Como o clima pode variar muito dependendo do ano, a mesma coisa acontece com a uva: em algumas safras, ela pode ter pouco açúcar; em outras, a casca fica muito grossa. Todas essas variações influenciam a produção do vinho, sua qualidade e complexidade.
Então tem que ser um expert pra escolher vinhos de guarda?
A resposta novamente é: não. Ainda bem, senão eu mesmo não conseguiria!
Uma referência que eu uso e adoro é a tabela de safras da Wine Enthusiast. Ela está disponível online ou em um PDF super útil (essa é a minha versão favorita porque eu deixo salvo comigo e posso consultar em qualquer lugar). Essa tabela é atualizada anualmente e serve como uma ótima fonte de consulta.
Aqui, fiz um print de parte da tabela linkada para ilustrar. O que ela nos diz? Por exemplo, que um Barolo de 2001 está ótimo para beber. Por outro lado, um Barbaresco de 2002 (que foi uma safra ruim) já está em declínio.
Muito útil, não é?!
Lógico que essa tabela não se aplicará a todos os vinhos produzidos num determinado ano e local, mas serve como um ótimo ponto de partida.
Comece pelos europeus e depois diversifique
Pela tabela de safras da Wine Enthusiast, podemos inferir algumas dicas importantes. Se a intenção é guardar o vinho por 15, 20 anos (como é o meu caso nesse momento), me parece fazer sentido começar pelos vinhos que vão demorar mais pra amadurecer. Então, vamos focar nossas escolhas em italianos e franceses. Mais especificamente, os primeiros anos podem ter Brunellos di Montalcino, Barolos, Chiantis, Amarones, Bolgheris e Barbarescos, pelo lado italiano. Atravessando a fronteira, vamos começar com vinhos da região de Bordeaux, Burgundy e Rhône.
Ou seja, começamos muuuuito bem! Esses vinhos ficarão bem guardados por algumas décadas. Depois disso, podemos diversificar bem: que tal expandir para australianos, espanhois e portugueses?
Os vinhos mais “novos” (ou seja, aqueles que você vai comprar daqui a uns 15 anos para serem abertos uns 5 anos depois) podem ser americanos, chilenos e argentinos. Eu ainda “voltaria às origens” e compraria uns italianos e franceses também para comparar (de preferência, os mesmos rótulos que compramos 15-20 anos antes! Seria muito legal, não é?).
Gaste mais no início da coleção, menos no final
Isso não é uma regra de ouro, mas imagino que pode acontecer. Esses vinhos clássicos italianos e franceses costumam ser mais caros. Por exemplo, é possível achar um bom Cabernet Sauvignon chileno por menos de 70 reais, mas com raras exceções, você não encontrará um Brunello ou Barolo por menos de 30 euros (ou seja, uns 180 reais. Isso comprando lá! Aqui no Brasil é muito mais caro).
Ou seja, esses vinhos que precisarão durar mais tempo provavelmente serão mais caros também. Conforme for chegando ao final da coleção, conseguirá achar opções mais em conta e diversificar mais. Se os australianos estão muito caros, vá de espanhois. Os americanos estão salgados? Opte pelos chilenos. Enfim, existem várias formas de você montar o quebra-cabeça. O mais importante é gastar com inteligência. Não adianta gastar 100 reais hoje e achar que o vinho vai durar por 20 anos, você estará jogando dinheiro fora. Melhor gastar um pouco mais e ter uma experiência fantástica no futuro.
Quer montar a adega para consumir em menos tempo? Mais fácil ainda
Talvez você não precise guardar um vinho por 20 anos. Serão apenas 10? Ok, suas opções aumentam significativamente. Até pode comprar os italianos e franceses, mas deixa de ser absolutamente necessário. Com menos tempo de guarda, as opções aumentam. E se você for comprar menos vinhos, pode até optar por comprar rótulos um pouco mais caros.
Nosso caso concreto: duas coleções de 20+ anos
Voltando para a nossa situação concreta, nós temos 2 filhos e a intenção é guardar 1 vinhos por ano para cada um. Vamos fazer uma coleção que vai durar mais do que 18 anos porque pretendo continuar presenteando eles mesmo depois que já puderem beber. Como falei: na formatura, casamento, paternidade e outros eventos marcantes. Ou seja, estou falando de, pelo menos, uns 50 vinhos.
Até agora só comprei 6. Com a pandemia e a restrição a viagens, precisei pausar a coleção, o que significa que, quando voltar a viajar, vou ter que “tirar o atraso” e comprar pelo menos 2 ou 3 vinhos para cada de uma vez. E seguindo aquela lógica que mencionei, vou começar pelos franceses e italianos, diversificando depois.
Donna Olga Brunello di Montalcino Riserva 2010.
Iliceus Brunello di Montalcino 2012.
Buena Vista Cabernet Sauvignon 2016.
Em relação à guarda, atualmente temos uma adega para 29 vinhos, longe de ser suficiente no longo prazo. Já sei que precisarei comprar uma maior no futuro e estamos nos preparando financeiramente para isso.
Em resumo: seu custo final será muito maior do que o preço das garrafas. E valerá cada centavo!
A essa altura, você já deve ter percebido que essa não é uma decisão barata. Se planejando bem, é possível não precisar fazer grandes gastos de uma vez (com exceção da compra da adega), mas é inegável que estamos falando de alguns milhares de reais (divididos em 20 anos, claro).
Mas falo para vocês que é um investimento que faremos com uma enorme alegria. Imagino os bons momentos que eles terão conosco e certamente com outras pessoas, como amigos queridos, cônjuges, familiares, e abro um enorme sorriso! Esses momentos precisam de vinho para serem memoráveis? Certamente não. Mas que um bom Cabernet ajuda, ajuda. 🙂
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